terça-feira, abril 05, 2016

RELEMBRANDO RODRIGO PILLER E SEU RELÓGIO

Há nove anos atrás, no dia 05/04/2007, o Blog Titanic Momentos trazia com exclusividade, outra entrevista (dividida em três partes) com o nosso amigo e titânico Rodrigo Piller, que contava como foi o processo de criação do seu relógio.

Neste mês de Abril, resolvi relembrar este momento mágico. Para quem ainda não leu, espero que todos gostem da matéria. Para os antigos, vai um momento de nostalgia.


Rodrigo Aparecido Piller


Olá novamente amigos do Titanic Momentos.

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a todos que gostaram do trabalho com a cadeira e me enviaram suas mensagens de apoio. Novamente fui convidado pelo Alencar, desta vez descreverei como foi que tive a idéia, comecei e finalizei os trabalhos do relógio da grande escadaria do Titanic, cujo nome é “A Coroação da Honra e da Glória”.

Desde que comecei a colecionar sobre o Titanic sempre tive muita vontade de fazer objetos que pertenceram a ele, logo depois da feira de ciências de 2002, onde eu apresentei a maquete de 2,24 m. que fiz dele a febre com relação a isso só fez aumentar. Adquiri em 2005 o livro making off do filme que tem uma foto bem detalhada do relógio e foi nele que tive minha maior fonte de imagens (juntamente com o filme).

Comecei a pensar se eu conseguiria fazer um relógio igual ou parecido com o do navio, como eu sabia que era bastante difícil o projeto não saiu do papel por mais de um ano. No começo fiz desenhos, planos e fui imaginando formas de fazê-lo. Achava que se o fizesse não ficaria nem parecido, pois achava que eu mesmo não teria capacidade de modelar tantos detalhes complexos e as duas figuras humanas.

O preço de tudo também era visto como barreira, pois não sabia quais materiais usaria na confecção e quanto custariam. Por várias vezes visitei um vizinho de minha rua que trabalha com gesso e tentei explicar como eu queria fazer e se ele tinha alguma forma de gesso que eu poderia aplicar no relógio. Mas tendo em vista que o relógio é algo único não encontrei nada que pudesse me ajudar. Como eu já pintava quadros e possuía uma forma (feita em borracha de silicone) para fazer molduras em gesso (que esse vizinho fez para mim) imaginei que esta mesma forma podia me ajudar. Em um certo ponto já era inevitável começar. Sabia que não poderia fazer o relógio inteiro, pois ele tinha mais de 2,50 m. de altura (pegava do piso ao teto), então optei por fazer apenas a parte principal.

Imaginei que poderia fazer toda a moldura em gesso (já que seria bobeira tentar fazer uma igual ao do relógio), os anjos em massa de biscuit, a armação toda em madeira e o restante em papelão paraná, o mesmo que usei para fazer o navio. Como todo trabalho, comecei pelo princípio. Fiz o quadro do relógio em madeira de pínus, a mesma que uso em meus quadros, fiz a base do relógio com dois quadros velhos de madeirite e para dar aspecto bem liso lixei tudo e colei duas folhas de papel cartaz por cima. Nisso eu já tinha feito as quatro molduras externas (com minha forma) e encomendado as quatro internas com meu vizinho.


Quando as molduras secaram uni cada uma delas ao quadro com cola branca e fiz o acabamento nas juntas com gesso e massa acrílica. O próximo passo foi fazer as estruturas da base do círculo do relógio e o círculo também. Essas duas peças foram feitas com papelão paraná bem reforçado. Fiz o buraco na madeira na parte onde aplicaria o relógio e logo em seguida fixei o círculo e a base com cola. Fiz os acabamentos com papel de seda para disfarçar o ponto de colagem entre o papelão e a madeira revestida em papel cartaz.

Montei o mostrador do relógio com papel e tive de fazer os números no computador e montá-los num círculo bem medido para tirar xérox de tudo para sumir com as emendas (fiz isso, pois não teria como encontrar um mostrador com as mesmas características do relógio original).

Já havia comprado a máquina do relógio (que era de um relógio de parede) e fui cortando os ponteiros de plástico para que ficassem mais finos e parecidos com o do relógio original, finalizei os ponteiros fazendo pontas no formato de gotas como os da foto original e pintei de preto. Fiz o miolo dourado do relógio com papel laminado todo recortado. Mandei cortar o vidro numa vidraçaria e encaixei sob o círculo já pronto. Depois de tudo seco preparei 3 kg. de massa de biscuit branca e comecei a parte mais desafiadora, “a modelagem”.

Comecei fazendo os pequenos detalhes florais da base de sustentação do relógio e logo em seguida fiz os pés das duas figuras. Fiz as cabeças inteiramente com massa e, como medida de economia de material, fiz o interior de seus corpos e pernas preenchidos com jornal, isso deu a estrutura interna necessária para ser recoberta por uma camada de massa imitando o tecido das roupas. Não fiz as roupas por inteiro e sim fui trabalhando com pequenos pedaços de massa esticada para dar o movimento do tecido, isso sempre com a foto do relógio e o filme em mãos e reparando em todos os detalhes.

Como para mim seria difícil fazer os pequenos detalhes iguais aos do relógio resolvi não copiar e sim fazer releitura das folhagens do pé do relógio e de tudo que não pudesse fazer idêntico. Os trabalhos de modelagem demoraram dois dias.

Depois disso veio a secagem que deve ter demorado uns três ou quatro dias (já não lembro), o próximo passo era a pintura, o que era mais um problema, pois ainda não tinha descoberto como fazer uma tonalidade de madeira que ficasse bonita. Arrisquei a começar a pintar. Pintei de marrom escuro, em seguida de bege, mais uma mão de tinta e outra e mais outra, passei cola em cima de tudo para plastificar e envernizei depois.


Foto: Rodrigo Piller e todos os seus trabalhos relacionados ao Titanic

Ficou uma droga! Fiz tudo de novo e novamente deu errado, ficou muito escuro. Tentei a terceira vez e dessa vez deu mais certo. Depois de dar a tonalidade de madeira e envernizar pela terceira vez passei mais uma mão de tinta marrom escuro e fui limpando o excesso com um pano, o resultado disso foi como se essa tinta fosse betume. Ela impregnou nas partes mais profundas dos entalhes e deu um aspecto de envelhecido ao relógio. Envernizei tudo novamente e somando-se todas as demãos de tinta que dei foram 15, pois errei muitas vezes e cada etapa exigia 4 ou 5 demãos.

O relógio ficou com 100 x 81 cm e deve pesar uns 12 kg. Conclui o trabalho em 31 de março de 2006 (exatamente 95 anos depois do lançamento do casco do navio ao mar, descobri isso escrevendo este texto).

Nem a modelagem, nem as molduras e nem a pintura ficaram como réplica idêntica, mas novamente repito que não sou especialista nisso e que fiz o que deu para ser feito tendo em vista os materiais alternativos que uso.

Usei:
* Madeira de pinus, cola quente e pregos para a estrutura
* Papel cartaz e cartolina para o revestimento da base do relógio
* Um relógio de parede (que desmontei e aproveitei o motor e ponteiros)
* Gesso para as molduras
* Papel paraná para as partes retas e para o círculo saliente do relógio
* Cola, maisena e vaselina para a massa de biscuit
* Um vidro para o visor do relógio
* Cola quente para unir as partes em papel
* Bastante tinta marrom, bege e verniz incolor (já que errei várias vezes)
* E mais cola para unir tudo...

O custo total disso foi de 68 reais (preços de 2007). O relógio é junto com o relógio da suíte da Rose, com o navio, a cadeira e a coleção Titânica meus maiores xodós.

Espero que com esse e com outros depoimentos meus, vocês que tem vontade de arriscar a fazer algo se animem e partam para a luta, pois o ser humano é movido pela vontade. Vontade que se for colocada em prática é capaz de surpreender à todos...

Espero que tenham gostado e um grande abraço a todos os meus amigos Titanicmaníacos espalhados pelo Brasil afora...

Até mais.

Rodrigo Aparecido Piller

Um comentário:

Anônimo disse...

EU QUEROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO